Os prazos da NASA para lançamentos de suas missões espaciais estão ficando cada vez mais apertados. É que agora, além do Programa Artemis (previsto para enviar novos astronautas à Lua até 2024), a agência espacial deverá obedecer uma lei aprovada no Congresso e enviar a sonda robótica Europa Clipper para orbitar uma das luas de Júpiter utilizando o mesmo foguete projetado para as missões Artemis — que ainda nem está pronto.

Bem, a Europa Clipper é uma missão oficializada em 2019 e que já está em desenvolvimento. Consiste em um orbitador que estudará a lua Europa, de Júpiter, e investigará os sinais da existência de um oceano subterrâneo por lá, com o objetivo de saber se o lugar pode sustentar as formas de vidas que conhecemos. Inicialmente foi previsto um lançamento em junho de 2023, mas a NASA já anunciou que a missão deve sofrer algum atraso.

O foguete citado pelo Congresso é o Space Launch System (SLS), que foi projetado para ser o maior e mais poderoso lançador espacial da história da NASA, e será o responsável por levar os astronautas para a Lua todos os anos a partir de 2024. Entretanto, o SLS, que deveria ter iniciado seus testes em 2020, já sofreu vários atrasos devido a “desafios técnicos”. A NASA conta com a Boeing para ajudar na fabricação de alguns elementos, mas mesmo com todas as equipes envolvidas, a previsão atual para o primeiro voo é para o final de 2021.

Se isso já representa uma preocupação considerável em relação ao prazo para pousar astronautas na Lua até 2024, a mais recente decisão do Congresso estadunidense pode elevar ainda mais os níveis de apreensão dos engenheiros e administradores da NASA e da Boeing. De acordo com o chefe da NASA Jim Bridenstine, a agência espacial tem agora “um requisito por lei” para que o lançamento da sonda Europa Clipper seja feito no SLS.

Para complicar ainda mais, o lançamento da Europa Clipper possui uma janela bastante específica de lançamento. Como ela visitará uma das luas de Júpiter, a NASA deve programar tudo para que o lançamento ocorra em uma época em que a Terra está próxima do planeta gasoso — e a época será entre 2022 e 2025. Em outras palavras, se não for possível lançar o foguete até lá, a NASA terá que esperar até 2030 para que uma nova janela esteja disponível.

Independente das motivações do Congresso ao estabelecer essa determinação, trata-se de um problema sério de programação, já que a NASA não pode fabricar um novo foguete SLS tão rápido. Só para o estágio central, localizado no coração do foguete, a Boeing precisa de mais de um ano de preparação e três anos para a fabricação testes, de acordo com um documento da NASA. Isso significa que mesmo se a NASA assinasse seu próximo contrato hoje, o foguete resultante provavelmente não estaria pronto para voar até 2025.

Não é que a NASA e a Boeing só consigam produzir um foguete de cada vez. Na verdade, mais de um já está sendo fabricado, pois o Programa Artemis exigirá alguns lançamentos antes de pousar os astronautas na superfície lunar. O contrato inicial NASA-Boeing cobre os estágios principais para as missões Artemis 1 e 2 — a primeira será não-tripulada, enquanto a segunda será um voo tripulado sem pouso na Lua; os astronautas pisarão no solo lunar apenas na missão Artemis 3.

Todas essas missões deverão utilizar um SLS, mas apenas em outubro de 2019 foi assinado um acordo para transferir dinheiro para a Boeing começar a trabalhar em um terceiro estágio central. Por fim, foi assinado o contrato completo para os estágios principais de até 10 missões Artemis, que deveriam ser finalizados dentro de um ano. Bem, tudo isso poderia permitir à Boeing e à NASA o cumprimento do cronograma de 2024 para a missão Artemis 3, mas ninguém contava com a necessidade de lançar a Europa Clipper em um desses foguetes.

A NASA está priorizando o Artemis 3, e se a Europa Clipper depender do SLS, terá que esperar sua vez de voar. De acordo com Bridenstine, a NASA agora está “planejando construir a Europa Clipper e, em seguida, armazená-lo, porque não teremos um foguete SLS disponível até 2025”. É uma péssima notícia principalmente para a equipe responsável pela missão Clipper, que planejava ter a espaçonave pronta para o lançamento no início de… 2024, o mesmo ano do pouso na Lua.

Tecnicamente, a sonda poderia ser enviada à Lua de Júpiter em um foguete comercial, como o Falcon Heavy da SpaceX, mas a legislação não parece querer dar espaço para a parceria entre a NASA e o setor privado neste caso específico. Portanto, se os legisladores não mudarem de ideia, a missão na lua de Júpiter será adiada para, provavelmente, 2030. “Não acho que seja o plano certo, mas vamos seguir a lei”, disse Bridenstine.

Joel Graham, funcionário do Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, apoiou a decisão, e sugeriu que a responsabilidade seja direcionada às empresas responsáveis pela fabricação das peças do SLS. “Eu certamente espero que nossos fornecedores possam atender a isso [ao prazo] e fornecer o veículo”, disse ele. “Acho que todos podemos concordar que [o SLS] é o melhor veículo para enviar [a Clipper]”.

Fonte: Space.com