O interior da Via Láctea está longe demais para irmos para lá pessoalmente, mas isso não nos impede de “visitá-lo” com telescópios e ver o que existe por lá nas diferentes ondas eletromagnéticas existentes. Além disso, existe outra forma de conhecer e experienciar estes dados: um novo projeto utilizou dados de diversos telescópios, como o observatório de raios-x Chandra, da NASA, e aplicou a sonificação para ouvirmos os sons do que foi observado em uma experiência nova.
Assim, os dados das observações foram transformados em som. “Ouvir os dados dá uma nova dimensão para as pessoas experienciarem o universo”, diz Matt Russo, astrofísico e músico no projeto SYSTEM Sounds. Para isso, as produções combinam dados coletados por telescópios diversos.
Por exemplo, a sonificação da imagem do centro da Via Láctea inclui observações do observatório Chandra, imagens ópticas do telescópio espacial Hubble e observações infravermelhas do já desativado telescópio espacial Spitzer. Os usuários podem ouvir os dados de cada telescópio ou uma harmonia completa e conjunta.
Em uma das obras, enquanto o cursor se desloca pela imagem do centro galáctico, as observações dos gases super quentes feitas pelo Chandra são tocadas em um xilofone. Já os dados coletados pelo Hubble, da formação de estrelas, são representados pelo som do violino, enquanto as notas de piano acompanham as observações do Spitzer das nuvens infravermelhas de gás e poeira. Na “música” dos Pilares da Criação, os sons são gerados com movimentos horizontais da esquerda para a direita, como visto nas imagens ópticas e raios-X. Já no caso do que restou da supernova Cassioppeia A, os sons são mapeados de acordo com os elementos encontrados nos detritos da estrela que explodiu.
Christine Malec é cega, música e entusiasta da astronomia, e tem lembranças vívidas do que sentiu com a renderização dos sons do sistema TRAPPIST-1, a primeira sonificação que ouviu: “eu me arrepiei, porque senti que tive a impressão de como é perceber o céu noturno ou um fenômeno cosmológico”, descreve. Para ela, a música dá aos dados uma qualidade espacial que os fenômenos astronômicos têm, mas que as palavras não conseguem representar. Malec sentiu que esses sons são harmônicos, e isso não é coincidência: “queríamos criar algo que não fosse preciso só cientificamente, mas também agradável de ouvir”, explica Kimberly Arcand, cientista no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, que liderou o projeto. “Tínhamos que garantir que os instrumentos tocaram juntos em sinfonia”.
É certo que a sonificação pode deixar as maravilhas do universo mais acessíveis para pessoas com deficiências visuais, além de serem também um complemento para as imagens. Nos experimentos, Díaz-Merced já demonstrou que mesmo os astrônomos sem deficiências visuais podem identificar sinais com mais eficiência nos conjuntos de dados ao analisar áudios e informações visuais juntas, ao invés de confiar somente no que a visão alcança.
Fonte: ScienceNews, Chandra